artigos
O valor da luz silenciosa!

Por Soraya Medeiros
Nem toda luz precisa brilhar com intensidade para ser notada. Há quem escolha não o palco iluminado, mas a sutileza do cuidado silencioso. São presenças discretas, como um fio de água que corre manso, quase imperceptível, mas capaz de transformar lentamente a paisagem. Essas almas curam sem ostentar, ajudam sem cobrar reconhecimento e acolhem sem pedir aplausos.
No entanto, vivemos em tempos em que a sociedade parece valorizar mais o som do que a essência. O barulho rende likes, a exposição gera curtidas, e o brilho imediato se confunde com grandeza. Mas o verdadeiro impacto raramente se traduz em métricas: ele se revela nos alicerces invisíveis construídos por aqueles que se doam em silêncio, fortalecendo corações e sustentando relações.
É fácil não notar tais presenças. O olhar apressado passa reto pelo gesto simples, sem perceber sua força. Porém, quando a ausência chega, o vazio denuncia: eram elas que sustentavam muito mais do que se podia ver.
Há uma sabedoria rara em viver sem buscar holofotes. Ser leve na presença, íntegro na essência e bondoso nos gestos exige coragem — e também maturidade espiritual. Afinal, ir contra a corrente da vaidade é um ato de resistência em um mundo que idolatra aparências.
E mesmo que os olhos humanos falham em perceber, nada se perde diante de Deus. O amor, quando guia nossas ações, ecoa em dimensões muito maiores do que a nossa compreensão alcança.
Que essa seja, então, a nossa busca: reconhecer a grandeza do gesto silencioso, entender que a vida não se mede pelo barulho que fazemos, mas pela intensidade da luz que, mesmo discreta, jamais deixa de iluminar.
Soraya Medeiros é jornalista com MBA em Marketing, formação em Gastronomia e certificação como sommelier. Une comunicação, estratégia e enogastronomia.

artigos
O poder da influência em disputa

Por Fabricio Carvalho
Precisamos compreender rapidamente a profissão que já molda comportamentos, lucros e sonhos.
Quem você segue nas redes sociais? Parece uma pergunta banal, mas não é.
Cada follow é um voto de confiança, um gesto que vale dinheiro e que pode, sim, alterar modos de vida, aspirações e até decisões políticas.
O país ostenta hoje mais de 500 mil influenciadores ativos no Instagram — o maior número do planeta, quase tantos quanto os médicos registrados.
Entre os jovens, 75% sonham em seguir essa carreira. O que já foi um desejo excêntrico virou aspiração legítima, ocupação com status de profissão.
Mas, enquanto o setor cresce e movimenta bilhões, segue quase sem regulação, apesar dos riscos claros para a saúde mental, a economia e a democracia.
Segundo estudo realizado, em 2024, pelo Digital Economy and Extreme Politics Lab (DeepLab) – University College Dublin, 1 em cada 10 brasileiros já atua como criador digital.
Porém, a imensa maioria tem menos de 5 mil seguidores, trabalha de forma invisível ao Estado e sem qualquer proteção social.
A neurociência já mostrou que curtidas e visualizações disparam dopamina no cérebro, tornando adolescentes especialmente vulneráveis.
Nesse terreno fértil prosperam influenciadores de ostentação, vendedores de promessas milagrosas e propagandistas de apostas online — um cenário que leva muitos jovens a abandonar os estudos na ilusão de viralizar.
O relatório do DeepLab reforça, ainda, que mulheres negras de baixa renda sofrem de forma ainda mais cruel: veem no Instagram a chance de obter renda extra, mas acabam presas em ciclos de frustração e endividamento.
Esse mercado opera sob lógica piramidal, em que poucos enriquecem vendendo cursos e mentorias, enquanto a maioria permanece invisível e precarizada.
Contudo, a regulação se faz necessária também quando se olha a nova profissão sob uma outra ótica.
Se na base da pirâmide há precarização e frustração, no topo está um pequeno grupo que concentra enorme poder de alcance.
Influenciadores que mobilizam milhões de seguidores não podem ser tratados como simples produtores individuais de conteúdo: pelo impacto social e político que exercem, precisam assumir responsabilidades proporcionais ao tamanho da massa que controlam.
Essa assimetria exige que a regulação vá além da proteção dos vulneráveis e também estabeleça deveres mais rígidos para aqueles que lucram com tanta influência.
A CPI das Bets deixou evidente o tamanho do problema: influenciadores faturando alto ao empurrar jogos de azar para milhões de seguidores.
As recentes denúncias de abuso infantil envolvendo criadores de conteúdo também escancaram o lado mais sombrio desse universo.
Vejam o caso do influenciador Felca, que em agosto de 2025 publicou um vídeo denunciando a “adultização” de crianças nas redes e o que chamou de “Algoritmo P”.
O conteúdo viralizou, ultrapassou 45 milhões de visualizações e desencadeou uma reação em cadeia: contas de grandes influenciadores foram desativadas, como a de Hytalo Santos, depois preso por exploração sexual infantil, e a de Kamylinha, alvo de investigação.
Houve ainda aumento de 114% nas denúncias de abuso virtual e a tramitação emergencial de projetos de lei conhecidos como “Lei Felca”.
Esse episódio mostra que influência em larga escala não pode ser neutra: quem fala para milhões tem o poder de pautar instituições e, portanto, deve assumir responsabilidades proporcionais ao alcance que exerce.
Se compararmos os dois casos recentes, a oposição é evidente.
Nas Bets, a influência foi usada de forma predatória, empurrando pessoas para o vício e o endividamento em nome do lucro fácil.
Já com Felca, assistimos ao contrário: o alcance massivo serviu para expor abusos, mobilizar a sociedade e até provocar reações legislativas.
Os exemplos deixam claro que influenciar nunca é neutro — pode ser força de degradação ou motor de transformação.
E é justamente por isso que o país não pode continuar tratando influenciadores como simples produtores de conteúdo.
Quem fala para milhões precisa ser cobrado como quem detém poder: com deveres proporcionais ao impacto que exerce.
No Congresso, alguns projetos de lei começam a tocar no assunto: há propostas que exigem formação mínima para influenciadores, criminalizam a promoção de apostas, impõem regras de transparência em publicidade sensível e regulam o uso de inteligência artificial na criação de conteúdo.
Embora ainda incipientes, tais iniciativas demonstram que o tema entrou no radar político.
A França, por exemplo, avançou ao criar um Certificado de Influência Responsável, restringir publicidade nociva para menores e estabelecer responsabilidade civil solidária entre influenciadores e anunciantes.
Essa comparação mostra que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer.
No fim das contas, influenciar é exercer poder.
E todo poder precisa de limites, regras e responsabilidade.
Não se trata apenas de proteger consumidores ou jovens vulneráveis, mas de reconhecer que o poder de moldar comportamentos em escala massiva vem acompanhado de um dever proporcional de cuidado.
Quanto maior o alcance, maior deve ser a transparência e a obrigação de prestar contas.
Regular não é censurar, é proteger.
O país campeão em tempo de tela não pode continuar refém de um mercado bilionário sem amparo legal.
Minha intenção é articular uma preocupação estrutural, que envolve toda a sociedade diante da informalidade do trabalho e do poder concentrado de grandes influenciadores, mas com especial ênfase nos adolescentes.
Eles são os mais vulneráveis à dopamina, à precarização e à exposição a abusos, e, ao mesmo tempo, depositários de um futuro que precisa ser resguardado.
Por isso, não escrevo apenas para denunciar as distorções do presente, mas para afirmar a necessidade de proteger a juventude e garantir que seu caminho seja marcado por condições mais justas, seguras e promissoras.
Digo isso como quem acompanha de perto essa geração — pai de dois adolescentes, tio e padrinho de muitos.
Não podemos nos dar ao luxo de negligenciar a urgência desse desafio.
Fabricio Carvalho é maestro e membro da Academia Mato-Grossense de Letras (Cadeira n.º 23) – @maestrofabriciocarvalho
-
cultura6 dias atrás
Cine Teatro Cuiabá recebe evento de Dança com mais de 150 bailarinos de várias regiões do Estado
-
esportes6 dias atrás
Brasil vence Chile por 3 a 0; Estêvão faz 1º gol na Seleção
-
Saúde5 dias atrás
Mato Grosso enfrenta aumento de ISTs; especialista alerta para queda na testagem e reforça prevenção
-
TRIBUNAL DE JUSTIÇA MT5 dias atrás
Ouvidoria aproxima cidadão do Judiciário e fortalece a transparência em Mato Grosso
-
Saúde4 dias atrás
Distrofia Muscular de Duchenne: doença pode causar escoliose em casos mais graves, orienta ortopedista
-
BRASIL E MUNDO7 dias atrás
Cúpula em Paris: 26 Países se comprometem com a segurança da Ucrânia pós-conflito
-
BRASIL E MUNDO7 dias atrás
Governo lança “Gás do Povo”: Programa distribuirá botijões gratuitos a 15,5 milhões de famílias
-
Educação4 dias atrás
Estudantes da UFMT criam canal para combater avanço de Cybercrime