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O poder da influência em disputa

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Por Fabricio Carvalho

Precisamos compreender rapidamente a profissão que já molda comportamentos, lucros e sonhos.

Quem você segue nas redes sociais? Parece uma pergunta banal, mas não é.

Cada follow é um voto de confiança, um gesto que vale dinheiro e que pode, sim, alterar modos de vida, aspirações e até decisões políticas.

O país ostenta hoje mais de 500 mil influenciadores ativos no Instagram — o maior número do planeta, quase tantos quanto os médicos registrados.

Entre os jovens, 75% sonham em seguir essa carreira. O que já foi um desejo excêntrico virou aspiração legítima, ocupação com status de profissão.

Mas, enquanto o setor cresce e movimenta bilhões, segue quase sem regulação, apesar dos riscos claros para a saúde mental, a economia e a democracia.

Segundo estudo realizado, em 2024, pelo Digital Economy and Extreme Politics Lab (DeepLab) – University College Dublin, 1 em cada 10 brasileiros já atua como criador digital.

Porém, a imensa maioria tem menos de 5 mil seguidores, trabalha de forma invisível ao Estado e sem qualquer proteção social.

A neurociência já mostrou que curtidas e visualizações disparam dopamina no cérebro, tornando adolescentes especialmente vulneráveis.

Nesse terreno fértil prosperam influenciadores de ostentação, vendedores de promessas milagrosas e propagandistas de apostas online — um cenário que leva muitos jovens a abandonar os estudos na ilusão de viralizar.

O relatório do DeepLab reforça, ainda, que mulheres negras de baixa renda sofrem de forma ainda mais cruel: veem no Instagram a chance de obter renda extra, mas acabam presas em ciclos de frustração e endividamento.

Esse mercado opera sob lógica piramidal, em que poucos enriquecem vendendo cursos e mentorias, enquanto a maioria permanece invisível e precarizada.

Contudo, a regulação se faz necessária também quando se olha a nova profissão sob uma outra ótica.

Se na base da pirâmide há precarização e frustração, no topo está um pequeno grupo que concentra enorme poder de alcance.

Influenciadores que mobilizam milhões de seguidores não podem ser tratados como simples produtores individuais de conteúdo: pelo impacto social e político que exercem, precisam assumir responsabilidades proporcionais ao tamanho da massa que controlam.

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Essa assimetria exige que a regulação vá além da proteção dos vulneráveis e também estabeleça deveres mais rígidos para aqueles que lucram com tanta influência.

A CPI das Bets deixou evidente o tamanho do problema: influenciadores faturando alto ao empurrar jogos de azar para milhões de seguidores.

As recentes denúncias de abuso infantil envolvendo criadores de conteúdo também escancaram o lado mais sombrio desse universo.

Vejam o caso do influenciador Felca, que em agosto de 2025 publicou um vídeo denunciando a “adultização” de crianças nas redes e o que chamou de “Algoritmo P”.

O conteúdo viralizou, ultrapassou 45 milhões de visualizações e desencadeou uma reação em cadeia: contas de grandes influenciadores foram desativadas, como a de Hytalo Santos, depois preso por exploração sexual infantil, e a de Kamylinha, alvo de investigação.

Houve ainda aumento de 114% nas denúncias de abuso virtual e a tramitação emergencial de projetos de lei conhecidos como “Lei Felca”.

Esse episódio mostra que influência em larga escala não pode ser neutra: quem fala para milhões tem o poder de pautar instituições e, portanto, deve assumir responsabilidades proporcionais ao alcance que exerce.

Se compararmos os dois casos recentes, a oposição é evidente.

Nas Bets, a influência foi usada de forma predatória, empurrando pessoas para o vício e o endividamento em nome do lucro fácil.

Já com Felca, assistimos ao contrário: o alcance massivo serviu para expor abusos, mobilizar a sociedade e até provocar reações legislativas.

Os exemplos deixam claro que influenciar nunca é neutro — pode ser força de degradação ou motor de transformação.

E é justamente por isso que o país não pode continuar tratando influenciadores como simples produtores de conteúdo.

Quem fala para milhões precisa ser cobrado como quem detém poder: com deveres proporcionais ao impacto que exerce.

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No Congresso, alguns projetos de lei começam a tocar no assunto: há propostas que exigem formação mínima para influenciadores, criminalizam a promoção de apostas, impõem regras de transparência em publicidade sensível e regulam o uso de inteligência artificial na criação de conteúdo.

Embora ainda incipientes, tais iniciativas demonstram que o tema entrou no radar político.

A França, por exemplo, avançou ao criar um Certificado de Influência Responsável, restringir publicidade nociva para menores e estabelecer responsabilidade civil solidária entre influenciadores e anunciantes.

Essa comparação mostra que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer.

No fim das contas, influenciar é exercer poder.

E todo poder precisa de limites, regras e responsabilidade.

Não se trata apenas de proteger consumidores ou jovens vulneráveis, mas de reconhecer que o poder de moldar comportamentos em escala massiva vem acompanhado de um dever proporcional de cuidado.

Quanto maior o alcance, maior deve ser a transparência e a obrigação de prestar contas.

Regular não é censurar, é proteger.

O país campeão em tempo de tela não pode continuar refém de um mercado bilionário sem amparo legal.

Minha intenção é articular uma preocupação estrutural, que envolve toda a sociedade diante da informalidade do trabalho e do poder concentrado de grandes influenciadores, mas com especial ênfase nos adolescentes.

Eles são os mais vulneráveis à dopamina, à precarização e à exposição a abusos, e, ao mesmo tempo, depositários de um futuro que precisa ser resguardado.

Por isso, não escrevo apenas para denunciar as distorções do presente, mas para afirmar a necessidade de proteger a juventude e garantir que seu caminho seja marcado por condições mais justas, seguras e promissoras.

Digo isso como quem acompanha de perto essa geração — pai de dois adolescentes, tio e padrinho de muitos.

Não podemos nos dar ao luxo de negligenciar a urgência desse desafio.

Fabricio Carvalho é maestro e membro da Academia Mato-Grossense de Letras (Cadeira n.º 23) – @maestrofabriciocarvalho

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Sexta-feira vai ter festa no Brasil

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Por Juacy da Silva

“Não vou pautar anistia ampla, geral e irrestrita”, diz presidente da CCJ do Senado Otto Alencar ao rebater articulação em andamento na Câmara e afirma que aqueles que “atentaram” contra a democracia devem ser punidos.

“Não há previsão nem de pauta, nem de relator”, disse Hugo em entrevista coletiva na Câmara. A declaração foi realizada nesta tarde (09/09/2025) enquanto era realizado o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no STF (Supremo Tribunal Federal).

Tudo leva a crer que nesta sexta-feira, 12 de setembro de 2025, termina a etapa crucial do julgamento do núcleo central da tentativa de golpe de Estado em que a cúpula do governo Bolsonaro está envolvida. São os “masterminds”, os idealizadores desta trama golpista que pretendia dar um golpe de Estado, assassinar o presidente e vice-presidente eleitos (Lula e Alckmin), além do ministro Alexandre de Moraes, possibilitando a instalação de uma ditadura de extrema direita em nosso país.

Os oito réus deverão ser julgados culpados ou inocentes e, tudo leva a crer, serão condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Nunca antes na história do Brasil um presidente, quatro oficiais-generais do mais alto posto nas Forças Armadas, um ex-ministro da Justiça, um diretor da Inteligência brasileira (e atualmente deputado federal) e um ajudante de ordens haviam sentado no banco dos réus, denunciados por diversos crimes.

O julgamento tem ocorrido em todas as suas fases dentro do devido processo legal, da presunção de inocência e da ampla defesa, o que jamais também ocorreu durante a ditadura militar que esteve no poder por 21 anos, quando milhares de pessoas foram presas arbitrariamente, torturadas e assassinadas, sem quaisquer direitos ou julgamento público, como agora está acontecendo.

Com certeza, esta sexta-feira será o início da festa da democracia no Brasil, que só estará completa quando todos os golpistas forem condenados, presos e pagarem suas penas atrás das grades, como um recado para que jamais possa existir tentativas de golpe de Estado e afronta ao Estado Democrático de Direito, ataques às instituições e ameaças às autoridades nacionais.

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Apesar da lisura do processo a que esses golpistas estão sendo julgados, mesmo assim, a base parlamentar e política desses extremistas não se cansa de tentar fazer retroceder a “roda da história” a favor de quem tentou de todas as formas destruir a democracia, as instituições nacionais e as liberdades em nosso país e burlar os resultados das eleições, apesar de neste momento estarem usando indevidamente os direitos humanos e a liberdade, tentando se passar por vítimas.

O projeto de lei para uma anistia “ampla, geral e irrestrita” para beneficiar os golpistas, principalmente o ex-presidente, é um tapa na cara da sociedade brasileira, do Supremo Tribunal Federal e da estabilidade democrática em nosso país e, por mais que seus apoiadores tentem, este caminho não existe, por várias razões: a) tanto o presidente do Senado quanto o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado não irão dar guarida a um absurdo desses: um projeto de lei que anistie golpistas é inconstitucional; b) por mais pressionado que esteja sendo o presidente da Câmara Federal, com certeza também não irá apoiar este absurdo; c) apenas por hipótese (improvável, diga-se de passagem), que tal peça legislativa logre aprovação nas duas Casas do Congresso, com certeza o Presidente Lula vetaria o mesmo; d) mesmo que o Congresso Nacional em sessão conjunta rejeite o veto do presidente e assim promulgue o que seria uma Lei de Anistia ampla, geral e irrestrita, para beneficiar os golpistas, o caminho certo em tal situação será a arguição de inconstitucionalidade da mesma junto ao STF, que, com absoluta certeza, diante do resultado do julgamento dos golpistas, irá declarar tal anistia simplesmente INCONSTITUCIONAL, ou seja, todo este movimento é inócuo, é jogo de cena, visando as eleições de 2026.

Tanto isto é verdade e tendo em vista que Bolsonaro, além de inelegível, deverá ser condenado e preso, assim, basta observar que alguns governadores que se dizem de direita ou extrema direita, como, por exemplo, o governador de São Paulo, já estão articulando suas candidaturas, tentando ficar com o espólio que ainda resta do bolsonarismo, ou seja, nessas articulações estão, de fato, rifando o próprio Bolsonaro, abandonando-o à sua própria sorte, como se diz.

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Dentro de pouco mais de um ano teremos eleições gerais e aí, sim, a soberania popular manifestar-se-á nas urnas eletrônicas, aquelas mesmas urnas eletrônicas que esses golpistas tentaram desacreditar, e dará a resposta a toda esta celeuma e saberemos se os brasileiros pretendem viver em uma nação soberana, independente, democrática e justa ou em um país dominado pelo ódio, pelas fake news, pelo golpismo, pelo revanchismo, sendo vassalo de governos estrangeiros, como querem os extremistas de direita (bolsonaristas) e seus seguidores de direita ou do centrão, batendo continência para bandeiras de outros países, como temos visto em suas manifestações.

Em pesquisa realizada pelo Observatório da Democracia da Advocacia-Geral da União e pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), com o suporte da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), publicado pelo site O Tempo Brasília, de 10 de dezembro de 2024, os dados mostram que 81% da população brasileira concorda que, embora possa ter problemas, a democracia é o melhor regime político. Razão mais do que suficiente para que a defendamos contra as ofensivas da extrema direita, tentando destruí-la com um golpe de Estado.

Este é o recado que este julgamento está passando aos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e ao povo brasileiro neste momento histórico da vida nacional.

Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. Email: [email protected] Instagram: @profjuacy WhatsApp: 65 9 9272 0052

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