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O combate começa pela prevenção

Por Alexandre Enout
Nos últimos anos, os incêndios florestais têm se mostrado um dos maiores desafios ambientais do Brasil, ameaçando a biodiversidade, a saúde pública e a vida das comunidades que dependem diretamente dos biomas. Em 2025, um cenário positivo tem chamado a atenção: dados apontam para uma redução no número de incêndios florestais no país, resultado de uma combinação de fatores que envolvem condições climáticas mais favoráveis, avanços na estrutura de prevenção e maior integração entre instituições públicas e privadas.
No Pantanal e no Cerrado mato-grossense, essa redução também foi percebida. Entretanto, é preciso destacar que, por mais que as ações humanas tenham papel determinante, a questão climática continua sendo o fator fundamental na dinâmica dos incêndios florestais. Neste ano, tivemos chuvas regulares no período chuvoso e até mesmo precipitações atípicas no mês de agosto, mantiveram a umidade da vegetação e uma boa superfície de água nos campos alagáveis do Pantanal, criando condições ideais para as equipes atuarem de forma ainda mais eficaz na prevenção.
Com o risco reduzido, a Brigada Sesc Pantanal intensificou os trabalhos preventivos, que têm custo menor que o combate. Realizamos a manutenção de acessos estratégicos dentro das três áreas naturais: a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal, o Parque Sesc Baía das Pedras e o Parque Sesc Serra Azul. Esse trabalho, apesar de pouco percebido pelas pessoas, é fundamental: os acessos facilitam a atuação rápida e dificultam o avanço das chamas.
Esse planejamento fez a diferença nas poucas ocorrências registradas em agosto. Os pequenos focos foram combatidos de forma rápida e eficiente, impedindo que se transformassem em grandes incêndios.
Para trabalhar na prevenção e no combate, o Polo Socioambiental mantém uma estrutura completa de apoio, composta por profissionais, além de uma frota que conta com avião para monitoramento, caminhões-pipa, tratores, carretas-tanque, kits de combate, bombas costais e outros equipamentos. Além disso, a participação no Comitê Estadual de Gestão do Fogo e na Sala de Situação Central, coordenados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso, garante integração com outras instituições e reforça a rede de proteção contra os incêndios.
Além disso, acreditamos que a verdadeira prevenção começa com a educação. Por isso, nossa campanha em 2025 traz o tema “O combate começa pela prevenção aos incêndios florestais”, e é voltada para sensibilizar comunidades pantaneiras, povos indígenas, fazendeiros e visitantes sobre a importância do cuidado com o fogo. Esse trabalho inclui ações educativas em escolas, palestras, distribuição de materiais informativos e conversas diretas com as comunidades.
Até este momento, o cenário é positivo e seguimos trabalhando, com a consciência de que a prevenção é um trabalho contínuo e que os desafios permanecem.
Alexandre Enout é ecólogo e gestor da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal.

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O poder da influência em disputa

Por Fabricio Carvalho
Precisamos compreender rapidamente a profissão que já molda comportamentos, lucros e sonhos.
Quem você segue nas redes sociais? Parece uma pergunta banal, mas não é.
Cada follow é um voto de confiança, um gesto que vale dinheiro e que pode, sim, alterar modos de vida, aspirações e até decisões políticas.
O país ostenta hoje mais de 500 mil influenciadores ativos no Instagram — o maior número do planeta, quase tantos quanto os médicos registrados.
Entre os jovens, 75% sonham em seguir essa carreira. O que já foi um desejo excêntrico virou aspiração legítima, ocupação com status de profissão.
Mas, enquanto o setor cresce e movimenta bilhões, segue quase sem regulação, apesar dos riscos claros para a saúde mental, a economia e a democracia.
Segundo estudo realizado, em 2024, pelo Digital Economy and Extreme Politics Lab (DeepLab) – University College Dublin, 1 em cada 10 brasileiros já atua como criador digital.
Porém, a imensa maioria tem menos de 5 mil seguidores, trabalha de forma invisível ao Estado e sem qualquer proteção social.
A neurociência já mostrou que curtidas e visualizações disparam dopamina no cérebro, tornando adolescentes especialmente vulneráveis.
Nesse terreno fértil prosperam influenciadores de ostentação, vendedores de promessas milagrosas e propagandistas de apostas online — um cenário que leva muitos jovens a abandonar os estudos na ilusão de viralizar.
O relatório do DeepLab reforça, ainda, que mulheres negras de baixa renda sofrem de forma ainda mais cruel: veem no Instagram a chance de obter renda extra, mas acabam presas em ciclos de frustração e endividamento.
Esse mercado opera sob lógica piramidal, em que poucos enriquecem vendendo cursos e mentorias, enquanto a maioria permanece invisível e precarizada.
Contudo, a regulação se faz necessária também quando se olha a nova profissão sob uma outra ótica.
Se na base da pirâmide há precarização e frustração, no topo está um pequeno grupo que concentra enorme poder de alcance.
Influenciadores que mobilizam milhões de seguidores não podem ser tratados como simples produtores individuais de conteúdo: pelo impacto social e político que exercem, precisam assumir responsabilidades proporcionais ao tamanho da massa que controlam.
Essa assimetria exige que a regulação vá além da proteção dos vulneráveis e também estabeleça deveres mais rígidos para aqueles que lucram com tanta influência.
A CPI das Bets deixou evidente o tamanho do problema: influenciadores faturando alto ao empurrar jogos de azar para milhões de seguidores.
As recentes denúncias de abuso infantil envolvendo criadores de conteúdo também escancaram o lado mais sombrio desse universo.
Vejam o caso do influenciador Felca, que em agosto de 2025 publicou um vídeo denunciando a “adultização” de crianças nas redes e o que chamou de “Algoritmo P”.
O conteúdo viralizou, ultrapassou 45 milhões de visualizações e desencadeou uma reação em cadeia: contas de grandes influenciadores foram desativadas, como a de Hytalo Santos, depois preso por exploração sexual infantil, e a de Kamylinha, alvo de investigação.
Houve ainda aumento de 114% nas denúncias de abuso virtual e a tramitação emergencial de projetos de lei conhecidos como “Lei Felca”.
Esse episódio mostra que influência em larga escala não pode ser neutra: quem fala para milhões tem o poder de pautar instituições e, portanto, deve assumir responsabilidades proporcionais ao alcance que exerce.
Se compararmos os dois casos recentes, a oposição é evidente.
Nas Bets, a influência foi usada de forma predatória, empurrando pessoas para o vício e o endividamento em nome do lucro fácil.
Já com Felca, assistimos ao contrário: o alcance massivo serviu para expor abusos, mobilizar a sociedade e até provocar reações legislativas.
Os exemplos deixam claro que influenciar nunca é neutro — pode ser força de degradação ou motor de transformação.
E é justamente por isso que o país não pode continuar tratando influenciadores como simples produtores de conteúdo.
Quem fala para milhões precisa ser cobrado como quem detém poder: com deveres proporcionais ao impacto que exerce.
No Congresso, alguns projetos de lei começam a tocar no assunto: há propostas que exigem formação mínima para influenciadores, criminalizam a promoção de apostas, impõem regras de transparência em publicidade sensível e regulam o uso de inteligência artificial na criação de conteúdo.
Embora ainda incipientes, tais iniciativas demonstram que o tema entrou no radar político.
A França, por exemplo, avançou ao criar um Certificado de Influência Responsável, restringir publicidade nociva para menores e estabelecer responsabilidade civil solidária entre influenciadores e anunciantes.
Essa comparação mostra que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer.
No fim das contas, influenciar é exercer poder.
E todo poder precisa de limites, regras e responsabilidade.
Não se trata apenas de proteger consumidores ou jovens vulneráveis, mas de reconhecer que o poder de moldar comportamentos em escala massiva vem acompanhado de um dever proporcional de cuidado.
Quanto maior o alcance, maior deve ser a transparência e a obrigação de prestar contas.
Regular não é censurar, é proteger.
O país campeão em tempo de tela não pode continuar refém de um mercado bilionário sem amparo legal.
Minha intenção é articular uma preocupação estrutural, que envolve toda a sociedade diante da informalidade do trabalho e do poder concentrado de grandes influenciadores, mas com especial ênfase nos adolescentes.
Eles são os mais vulneráveis à dopamina, à precarização e à exposição a abusos, e, ao mesmo tempo, depositários de um futuro que precisa ser resguardado.
Por isso, não escrevo apenas para denunciar as distorções do presente, mas para afirmar a necessidade de proteger a juventude e garantir que seu caminho seja marcado por condições mais justas, seguras e promissoras.
Digo isso como quem acompanha de perto essa geração — pai de dois adolescentes, tio e padrinho de muitos.
Não podemos nos dar ao luxo de negligenciar a urgência desse desafio.
Fabricio Carvalho é maestro e membro da Academia Mato-Grossense de Letras (Cadeira n.º 23) – @maestrofabriciocarvalho
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