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A Estupidez das Guerras

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Por Juacy da Silva

“Precisamos de uma paz desarmada” – Papa Leão XIV

A mensagem “Precisamos de uma paz desarmada” foi um tema central do Papa Leão XIV para o Dia Mundial da Paz de 2026, enfatizando que a paz deve ser baseada na confiança e na dignidade humana, e não no medo ou na acumulação de poder militar. Essa paz, descrita como “desarmada e desarmante”, requer que as pessoas e as nações rejeitem a violência, cultivem o diálogo, desarmem os espíritos, a comunicação de ódio e se comprometam com a justiça e a dignidade para todos.

Todas as guerras e conflitos armados representam a essência da estupidez humana, a falência do diálogo e o uso da violência armada como forma ou tentativa de solução dos conflitos; enfim, é a essência da irracionalidade humana.

Neste 7 de outubro de 2025, o conflito, a guerra ou, enfim, o genocídio na Faixa de Gaza completa dois anos, com mais de 67 mil mortos, mais de 22 mil crianças mortas, quase 80% de Gaza – com uma população de mais de 2,3 milhões de pessoas – destruída, mais de 160 mil feridos e 90% da população sem condições de vida, incluindo o uso da fome como arma de guerra.

O custo humano é alto: além das mais de 67 mil mortos, incluindo mais de 22 mil crianças, há cerca de 170 mil feridos — incluindo 4,8 mil amputações e 1,2 mil casos de paralisia total, vítimas inocentes de uma verdadeira bestialidade humana. Conforme dados de diversas fontes, estima-se que 2,7 mil famílias foram inteiramente dizimadas, e mais de 12 mil abortos espontâneos são atribuídos à desnutrição e à falta de assistência médica e hospitalar, além de dezenas de milhares de pessoas que estão morrendo por falta de alimentos e de água.

Em outra região, no Centro da Europa, em 22 de fevereiro de 2022, a Rússia, alegando o direito de garantir sua soberania e integridade territorial, apesar de não estar sendo ameaçada pela Ucrânia naquela ocasião, decidiu invadir militarmente aquele país, iniciando uma guerra que já dura mais de três anos e meio.

Ao longo deste tempo, a destruição da Ucrânia tem provocado não apenas danos materiais na infraestrutura, como estradas, pontes, viadutos, redes de energia elétrica, de gás, edifícios residenciais e também comerciais e administrativos, desorganizando completamente a economia daquele país, com reflexos tanto na economia da União Europeia quanto no resto do mundo.

Todavia, o maior impacto desta e de todas as guerras sempre recai sobre a população civil, provocando dezenas ou centenas de milhares de mortes, e muito mais, talvez o dobro ou o triplo de pessoas feridas e também, no caso da Ucrânia, mais de 10,3 milhões de pessoas em deslocamentos/migrações forçadas pela violência generalizada da guerra.

Ao longo desses três anos e meio de guerra, o total de militares e civis russos mortos é estimado em 790 mil, além de mais de 50 mil desaparecidos, enquanto do lado da Ucrânia estima-se que o total de mortos entre militares e civis seja em torno de 400 mil, mais de 35 mil pessoas também desaparecidas.

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Ou seja, esta guerra insana já provocou a morte de pelo menos 1,19 milhão de pessoas, entre civis e militares, mais de 85 mil desaparecidos e, estima-se que mais de 2,5 milhões de feridos, cujos impactos humanos e econômicos são imensuráveis e afetarão tanto a Ucrânia quanto a Rússia por várias décadas no futuro.

Outro impacto terrível tem sido os deslocamentos/migrações forçadas, atingindo, até outubro de 2025, aproximadamente 10,6 milhões de ucranianos que foram deslocados pela guerra, incluindo 3,7 milhões que foram forçados a deixar suas casas dentro da própria Ucrânia e 6,8 milhões que buscaram refúgio em outros países, de acordo com dados do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados).

Já que estamos falando, refletindo sobre guerras e seus impactos nos diversos países e que afetam muito mais pessoas inocentes, principalmente crianças, adolescentes, mulheres e também pessoas idosas, não podemos esquecer das chamadas “guerras invisíveis”, que ocorrem em diversos países do Oriente Médio, da Ásia e da África, principalmente a guerra entre o Sudão e o Sudão do Sul iniciada em 2023, que deixou pelo menos 40 mil mortes, enquanto a guerra civil no Sudão do Sul ceifou a vida de pelo menos 400 mil pessoas, contribuindo para uma violência generalizada e agravando a pobreza e a fome, em um país já extremamente pobre.

No último relatório do PNUD, divulgado em maio de 2025 e com dados referentes a 2024, o Sudão do Sul foi o último país no ranking de IDH, ocupando a 192ª posição com um IDH de 0,381. Ele está entre os três piores, junto com a Somália (193ª com 0,380) e a República Centro-Africana (191ª com 0,387), que fecham os países com os piores índices de desenvolvimento humano.

Enquanto isso, a tragédia que se abate sobre a Palestina como um todo e a Faixa de Gaza em particular, tem grande impacto no IDH daquele território, como enfatiza a manchete da matéria estampada no site Monitor do Oriente Médio de 29 de dezembro de 2024: “Guerra contra Gaza faz desenvolvimento humano da Palestina retroceder 69 anos. Há 416 dias que Gaza vive uma situação alarmante. A guerra de ‘Israel’ contra Gaza provoca uma devastação de proporções históricas, revertendo décadas de progresso no desenvolvimento humano e acentuando a crise humanitária na região. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (ESCWA) destacaram, em relatório recente, que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em Gaza retrocedeu 69 anos, atingindo níveis comparáveis aos de 1955. Essa situação alarmante reflete não apenas os impactos diretos da guerra, mas também as condições de longo prazo que já vinham enfraquecendo a infraestrutura e o tecido social da região”.

No caso dos conflitos envolvendo Israel e os Palestinos, mais de 150 países e decisão da ONU já reconheceram a Palestina como Estado soberano, com território e governos democraticamente instituídos e a própria Assembleia Geral da ONU já reconhece que a única alternativa para colocar um fim nesta guerra que já dura décadas é a chamada solução dos dois estados. Sem isso, o que existe é a falência da diplomacia e das decisões de foros internacionais e a conclusão de que a guerra também não tem sido o caminho para uma “paz desarmada”, como enfatiza o Papa Leão XIV, e a convivência pacífica entre os povos.

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O mesmo pode ser dito em relação à guerra na Ucrânia, em que a Rússia, uma superpotência, nega à Ucrânia seu direito à autodeterminação, soberania e integridade territorial, principalmente quando a mesma anexou a Crimeia e boa parte do que restou de território da Ucrânia e teima em ditar regras em relação à autodeterminação de um outro país.

Finalmente, é importante refletir sobre os impactos e custos econômicos e financeiros das guerras, que consomem bilhões ou trilhões de dólares apenas para matar, destruir e impor sofrimento a centenas de milhões de pessoas, quando tais recursos poderiam estar sendo utilizados para combater a fome, as doenças ou cuidar do meio ambiente e combater a crise climática.

No caso da Guerra Rússia x Ucrânia, esses gastos são imensos como podemos perceber. O custo econômico e financeiro tanto para a Ucrânia quanto para a Rússia e para a OCDE é de aproximadamente US$ 2,8 trilhões de dólares.

No caso da guerra entre Israel e o Hamas, conforme matéria no Jornal O Globo de 29 de janeiro de 2024, só para Israel este custo era de US$ 240 milhões de dólares por dia, ou seja, como esta guerra já dura dois anos, são 720 dias e este custo representa US$ 172,8 bilhões de dólares ou R$ 950,4 bilhões de reais, e mais do que o dobro deste valor para os palestinos, ou seja, mais de US$ 2,5 trilhões de dólares no total.

Enfim, todas as guerras têm como seus resultados elevados custos econômicos e financeiros para os países envolvidos, além da destruição da infraestrutura e desorganização de seus sistemas produtivos, impactando diretamente as pessoas, principalmente as que já são pobres e excluídas nos respectivos países.

Diante da insanidade, da estupidez e da irracionalidade de todas as guerras, conflitos armados e de tantas outras formas de violência generalizada, todos os países precisam dedicar recursos e esforços no sentido da construção de uma cultura da paz, ou melhor, da “paz desarmada”, como tanto tem sido enfatizado pelo Papa Leão XIV e tantos outros líderes religiosos, sociais e políticos ao redor do mundo.

Este é o nosso desafio, juntamente com a defesa e melhor cuidado com o meio ambiente, o Planeta Terra, nossa Casa Comum, que também sofre com inúmeros impactos decorrentes de tantas guerras. Nas palavras do Papa Francisco: “Precisamos ouvir o grito da terra e também o grito dos pobres e excluídos”, enfim, das vítimas de tantas formas de violência!

Juacy da Silva é professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email: [email protected]Instagram: @profjuacy WhatsApp: 65 9 9272 0052

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O Quinto Constitucional e a Advocacia: instrumento de equilíbrio e justiça social

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Por Joaquim Felipe Spadoni

O ingresso nos Tribunais de juristas com formações profissionais diversas da carreira da magistratura tem como proposta a necessária diversificação de conhecimentos e experiências no processo decisório, induzindo um maior equilíbrio dos julgamentos nas cortes de justiça. Ao assegurar ao cidadão decisões mais justas e mais próximas de sua realidade, o instituto fortalece a relevância social do Poder Judiciário e contribui para a legitimidade democrática das suas decisões. Daí a importância do chamado quinto constitucional e a razão de sua previsão expressa na Constituição Federal.
E não é à toa que a advocacia, ao lado do Ministério Público, foi chamada a compor essa estrutura plural dos Tribunais. A escolha do advogado para integrar a magistratura de segundo grau carrega um sentido profundo: é o advogado quem lida cotidianamente com o cidadão em suas dores, conflitos e necessidades concretas.
O exercício da profissão o coloca na linha de frente do sistema de justiça, permitindo-lhe compreender o papel do Poder Judiciário não apenas sob a ótica da lei, mas também sob a perspectiva de quem o procura em busca de tutela e proteção de direitos. É ele quem traduz a linguagem jurídica ao jurisdicionado, quem constrói pontes entre o indivíduo e o Estado-juiz, e quem conhece de perto as falhas, morosidades e necessidades do sistema judicial brasileiro. Essa vivência prática confere ao advogado uma sensibilidade especial para julgar com empatia e consciência social — atributos essenciais para o aperfeiçoamento da justiça.
O advogado que tem a honra de ser eleito por sua classe para compor a lista sêxtupla, e que, após a definição da lista tríplice pelo Tribunal, é nomeado pelo Chefe do Executivo para exercer a magistratura, precisa ter a plena consciência de que se torna um verdadeiro mandatário da Advocacia perante os Tribunais. Sua presença naquele colegiado não é apenas uma conquista pessoal, mas sobretudo uma missão institucional.
Deve, ali, não apenas exercer a magistratura com honradez, primando pela correta aplicação das leis vigentes, mas igualmente ser instrumento de salvaguarda das prerrogativas da advocacia.
As prerrogativas do advogado não são privilégios individuais ou corporativos — são garantias essenciais ao cidadão. Elas existem para assegurar que o advogado possa desempenhar seu papel de defensor dos direitos sem intimidações ou obstáculos, garantindo, assim, que todo indivíduo tenha efetivo acesso à justiça e um processo justo.
Quando se protege a atuação livre e independente da advocacia, protege-se a própria sociedade contra abusos do poder e arbitrariedades do Estado. Um Judiciário forte e legítimo só se constrói quando os advogados têm voz ativa e respeito institucional em sua atuação.
Por isso, aquele que ascende ao Tribunal pelo quinto constitucional não deve esquecer suas origens e a razão de ali estar: ser instrumento de justiça social, assegurando que a advocacia seja respeitada e que continue a ser, como determina a Constituição Federal, função indispensável à administração da justiça. A toga que veste carrega consigo a confiança de toda a classe e a responsabilidade de manter viva a essência democrática do Poder Judiciário: a de servir ao povo com equilíbrio, sensibilidade e justiça.

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Joaquim Felipe Spadoni é advogado em Cuiabá, sócio do Escritório Spadoni & Jaudy Advogados.

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