Pesquisar
Feche esta caixa de pesquisa.

artigos

Como comunicar as ações de sustentabilidade

Publicados

em

Por Dayane Nascimento

 A sustentabilidade é atualmente uma grande aliada do lucro nos negócios, já que promove aumento na credibilidade da marca, redução de custos e inovação em todas as fases de produção. Como profissional do marketing, proponho reflexões acerca de como comunicar essas ações para “além” das estratégias de marketing.

 Confesso que me incomoda observar quando empresas fazem pequenas iniciativas e investem pesado em divulgação, com o intuito apenas de ganhar destaque na mídia. Enquanto isso, empresas que realmente desenvolvem grandes ações de sustentabilidade nem sempre têm a presença na mídia (tradicional ou digital) que merecem.

 Os consumidores e a população em geral, até por falta de parâmetros para comparar essas ações, não conseguem perceber essa distorção. Neste contexto, acredito que é importante resgatar cada vez mais a prática de uma comunicação informativa, com o objetivo de contribuir com a construção de conhecimento dos desafios ESG.

 Não tem jeito, a comunicação publicitária sempre terá um tom mais emocional e persuasivo. Não é errado, é assim mesmo. Mas nem só de publicidade e propaganda se faz a comunicação, é crucial que as empresas ajam de forma responsável ao abordar questões de sustentabilidade, considerando também o impacto real de suas ações.

Leia mais:  Transformar estruturas: o caminho da educação ao emprego para reduzir desigualdades raciais

 Já a comunicação informativa pode realizar um papel essencial na promoção de ações conscientes que afetam positivamente o meio ambiente, influenciando a percepção do público e dos consumidores ao disseminar práticas responsáveis e sustentáveis – tanto no nível corporativo e institucional, como no nível do negócio e do marketing.

 Como fazer isso então? Valorizando fatos, dados, programas, projetos, ações e iniciativas. Precisa dar nomes aos bois, quantificar e localizar o rebanho, reportar avanços, resultados concretos, trabalhar para entusiasmar e motivar pelo exemplo, além de estabelecer indicadores, métricas e processos para avaliar a relação entre os recursos investidos em esforços socioambientais e na comunicação desses esforços.

 Não podemos deixar de aferir os impactos corporativos que a comunicação produz, assim como os impactos socioambientais que ela alavanca, aplicando os fundamentos básicos de toda comunicação: definir objetivo, público, estratégia. Não se deixe fascinar pela magia da comunicação mais do que pela paixão pela gestão sustentável, tenha em mente que a comunicação está a serviço da gestão (e não o contrário).

 O que gera confiança na comunicação sustentável: fatos e não promessas, humildade e não arrogância, números e não suposições, políticas concretas e não projetos pontuais, práticas e não discursos, convicção e não conveniência, senso de oportunidade e não oportunismo. Substitua “eu” por “nós”, use linguagem direta e narrativas afetivas que façam sentido para a vida das pessoas, que tragam “soluções”.

Leia mais:  Violência contra mulheres em Mato Grosso: quando a omissão se torna parte do problema

 Por fim, a proposta é olhar pela perspectiva de uma comunicação que se preocupa com consumidores mais conscientes, engajados e (também) desconfiados de que as mensagens de sustentabilidade representam estratégia de greenwashing (maquiagem). Esta é sem dúvida uma grande oportunidade para mudança de foco não só na gestão, como na própria maneira de comunicar tudo isso.

 No livro ‘O amanhã não está a venda’, Ailton Krenak, o primeiro indígena eleito para a Academia Brasileira de Letras, professor, filósofo e ambientalista, reforça a necessidade de “ouvir a voz da natureza” para avançar rumo a um futuro possível. A comunicação precisa acompanhar essa jornada, expondo dificuldades, avanços, erros e acertos, e construindo um relacionamento com o público consumidor e a própria sociedade. É um aprendizado compartilhado, vamos juntos!

 Dayane Nascimento é consultora de marketing com formação na UFMT, especialista em planejamento estratégico e economia comportamental pela ESPM/SP e empresária.

Comentários Facebook
Propaganda

artigos

O Zoneamento de 2011 como “Ausência-de-qualquer-Zoneamento”

Publicados

em

Por Alexandre Luís Cesar

O resultado do processo legislativo que aprovou “O Mapa dos Pesadelos”, resultante do substitutivo das ‘Lideranças Partidárias’ da ALMT, explicitado durante a tramitação, aprovação e sanção pelo Governador do Estado da Lei Estadual nº 9.523, de 20.04.2011, que instituiu a Política de Planejamento e Ordenamento Territorial do Estado de Mato Grosso, tendo o Zoneamento Socioeconômico Ecológico (ZSEE) como seu principal instrumento, foi o completo desvirtuamento dos propósitos do instrumento, buscando convertê-lo, paradoxalmente e ao mesmo tempo, à ineficácia, em razão dos vícios insanáveis promovidos em seu conteúdo, e à legitimação das ilegalidades e do fato consumado, convalidando práticas ambientalmente insustentáveis, em afronta às diretrizes técnico-científicas legalmente estabelecidas, aos dados coletados, com elevado custo para o conjunto da sociedade e às demandas legítimas de reconhecimento de direitos socioambientais.

Aliás, a proposta aprovada não só deixou de reconhecer direitos socioambientais, como os afrontou deliberadamente, quase como uma provocação ideológica dos proponentes; excluindo as áreas indígenas ainda não demarcadas e espaços indicados para criação de unidades de conservação, indicando áreas para criação de unidades de conservação sem qualquer justificativa, alterando as diretrizes para áreas protegidas para criar obrigações para indígenas e populações tradicionais, ou seja, ao invés de assegurar os direitos socioambientais, criou obrigações ilegais e estimulou conflitos ao transformar prováveis espaços protegidos em áreas produtivas.

Algumas das causas dessas inconsistências e ‘provocações’ decorreram da insatisfação da maioria dos deputados com o teor do primeiro substitutivo, que era evidente desde o reinício dos trabalhos legislativos de 2010. É que, em que pesem os amplos ajustes realizados na proposta original do Executivo, ela ainda era muito avançada em face dos seus interesses particulares, já que dos 24 deputados, cerca de 20 eram proprietários ou parentes de proprietários de latifúndios, e tinham base eleitoral na zona rural ou em cidades vinculadas ao ‘agronegócio’.

Ou seja, apesar do esforço realizado pelo parlamento mato-grossense, na fase inicial do processo legislativo do ZSEE (com a contratação de consultoria especializada, aquisição de programas cartográficos, diálogo constante com a equipe técnica do Poder Executivo, garantia junto à SEPLAN de recursos para a logística da participação de assentados, indígenas, morroquianos, entre outros, seminários e audiências públicas específicos para os povos indígenas etc.), para superar alguns desses ‘desajustes’, a etapa derradeira – e mais importante – de aprovação do projeto de lei, revelou a lógica conservadora e despreparada, para não dizer irresponsável, com que atuam, via de regra, os representantes do poder econômico travestidos de representantes do povo.

Leia mais:  O líder e a casa

Todos esses aspectos também foram evidenciados pelo Parecer Técnico Conjunto SEPLAN/SEMA/2010, elaborado pela equipe designada para analisar o Projeto de Lei aprovado, apontando um sem-número de inconsistências, erros crassos e ilegalidades nele presentes que impossibilitavam totalmente a sua aplicação, seja pela ausência de justificativas técnicas para a definição de limites das zonas, seja por desconsiderar a metodologia fixada pelo Governo Federal para a elaboração dos ZEEs.

A desfaçatez foi tamanha que muitas zonas foram altamente fragmentadas, com a criação, no interior de antigas zonas contínuas, de “pequenas ilhas”, muito parecidas com as áreas de propriedades rurais constantes da base de dados da SEMA. Ou seja, a proposta aprovada transformou as fazendas dos “amigos do rei” em categorias diferentes e menos restritivas daquelas que as circundavam. Em razão disso, e de muito mais, a equipe técnica orientou pelo veto integral ao Projeto de Lei da Política de Planejamento e Ordenamento Territorial do Estado de Mato Grosso.

No mesmo sentido foi o parecer da Procuradoria Geral do Estado de Mato Grosso, que também recomendou ao Governador do Estado o veto integral ao texto aprovado pelo Poder Legislativo mato-grossense, agregando, aos inúmeros elementos de vício formal e material em seu conteúdo, o reconhecimento da sua integral inconstitucionalidade por flagrante desrespeito aos deveres “inscritos nos artigos 225, caput, e 170, caput e incisos II, III e VI, além do artigo 5º, inciso XXIII”.

Leia mais:  Rede de proteção social no combate a insegurança alimentar

Além disso, quando da aprovação daquela proposta pelo parlamento mato-grossense, era certa, por inúmeras manifestações de representantes do MMA e do Ministério Público, a não homologação dela pela CCZSEE e a judicialização da matéria, o que tornava inservível um instrumento que consumiu cerca de 30 milhões de dólares e mais de 20 anos de atuação da Administração Pública. Por isso mesmo, foi correta a crítica de Miguel Aparício, na época, Coordenador Geral do FORMAD, para quem a estratégia da Assembleia Legislativa consistiu “em aprovar um Zoneamento que se instaura como Ausência-de-qualquer-Zoneamento”. Isto é, para aqueles que se sagraram vitoriosos nesse processo, era melhor nenhum zoneamento do que qualquer zoneamento, qualquer limitação – ou ameaça – que pudesse obstaculizar sua perspectiva de domínio pleno sobre o território e seus recursos.

Apesar do resultado, é inegável que aquele processo foi único, tanto pela maior participação já vista na tramitação de uma proposição normativa, maior até do que a discussão da Constituição Estadual em 1988/1989, quanto pela reorganização da sociedade civil, que estava isolada, com cada entidade trabalhando em suas pautas e projetos. Para a saudosa Profa. Dra. Michèle Sato, que coordenou o GTMS naquele período: “de repente, surgiu uma pauta que conseguiu unificar segmentos, inclusive inimigos, que não se falavam, colocando na mesma arena Xavante e Bororo. Então, eu acho que nunca se viu, na história de Mato Grosso, um movimento em que todas as entidades estavam juntas, fazendo a coisa acontecer. Isso, do ponto de vista da ciência, me parece um marco significativo do que a gente chama de movimentos sociais”.

Alexandre Luís Cesar é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Mato Grosso (IHGMT), Procurador do Estado e Professor Associado da UFMT.

Comentários Facebook
Continue lendo

Polícia

MATO GROSSO

Política Nacional

AGRO & NEGÓCIOS

ESPORTES

VARIEDADES

CIDADES

Mais Lidas da Semana