RETRATOS DO TEMPO
Campo Grande tem cura de menino reconhecida pelo Vaticano para canonização de Carlo Acutis
Por João Carlos Vicente Ferreira
No coração do Brasil, na Vila Margarida, em Campo Grande/MS, uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida tornou-se, sem que ninguém ousasse prever, o epicentro de um milagre reconhecido pelo Vaticano. O protagonista? Um menino de três, chamado Matheus, desenganado pelos médicos por conta de uma grave anomalia no pâncreas. O intercessor? Carlo Acutis, jovem italiano falecido em 2006, beatificado em 2020, canonizado em 2025, e conhecido como o “padroeiro da internet”. O elo humano dessa história? O Padre Marcelo Tenório, da Paróquia São Sebastião, que semeou a devoção a Carlo no Brasil quando ninguém, quase nem mesmo na própriaItália, sabia quem ele era. Com o tempo tornou-se conhecido mundialmente.
Este artigo não é apenas sobre fé, é sobre tempo, propósito e a misteriosa recorrência do número 12: Carlo morreu no dia 12 de outubro; Matheus recebeu a bênção da relíquia no mesmo dia; e a capela onde o milagre aconteceu foi elevada a santuário exatamente em outro 12 de outubro. Até a entrevista que você lê agora, com o padre Marcelo, ocorreu em 12 de setembro de 2025. Nada disso foi planejado. Mas tudo parece ter sido providenciado.
Um artigo, um afilhado e uma missão
A primeira fagulha dessa história brotou em 2011. Padre Marcelo, então já atuando há alguns anos em Campo Grande, recebeu de seu afilhado, Rodrigo Luna, um pequeno artigo em italiano sobre um adolescente falecido aos 15 anos, chamado Carlo Acutis. A leitura daquele texto acendeu uma chama, e essa chama o conduziu diretamente a Antonia Salzano, mãe de Carlo, que vivia então o luto de uma forma quase silenciosa na cidade de Milão.
Naquela época, nem a Igreja italiana havia se mobilizado. Foi Antonia quem iniciou um trabalho que resultou no processo de beatificação, por conta própria, criando uma associação familiar. Mas foi o Brasil, pela ação do padre Marcelo, que primeiro deu visibilidade ao nome de Carlo. “Ele não era conhecido em quase lugar nenhum. Carlo começa a ser conhecido a partir de Campo Grande”, afirma o padre.
A devoção começa por Campo Grande
Sem apoio financeiro e de infraestrutura inicial, o próprio padre Marcelo, com a autorização do então bispo auxiliar Dom Mariano, escreveu e publicou a primeira novena de Carlo Acutis no Brasil. Distribuiu imagens, panfletos e relíquias de terceiro grau (um linho tocado ao túmulo do jovem) para cada estado do país, gratuitamente. Fundou-se ali o Apostolado Brasileiro Carlo Acutis, Anjo da Juventude.
“Nós mandamos, e até hoje mandamos, material do Carlo totalmente de graça para o Brasil inteiro e fora dele. Desde 2011”, explica. Essa propagação entusiasmada da devoção fez florescer incontáveis relatos de graças alcançadas. “Os milagres chegaram. Embora tecnicamente não possamos chamá-los assim até o reconhecimento oficial da Igreja, os testemunhos são muitos”.
O menino Matheus e o milagre do pâncreas
Entre esses inúmeros relatos, um chamou atenção especial, o de Matheus Vianna. Um menino de três anos com o pâncreas deslocado, em grave estado de desnutrição, vomitando tudo o que comia. Sua família morava muito próximo da Capela Nossa Senhora Aparecida, capela vinculada à Paróquia São Sebastião. O padre Marcelo conhecia todos, inclusive a família Vianna, fiéis frequentadores da Capela de Vila Margarida.
Em 12 de outubro de 2013, durante uma bênção com a relíquia de um pedaço de camisa de Carlo, dada pessoalmente por Antonia Salzano, , o menino Matheus recebeu a imposição das mãos. Pediu, por orientação da mãe e da avó, que parasse de vomitar. Voltou para casa com fome. Comeu de tudo um pouco. E não vomitou mais.
No dia seguinte, a mãe de Matheus procurou o padre dizendo: “Acho que a gente recebeu uma graça”. Em fevereiro do ano seguinte, exames atestaram que o pâncreas da criança estava normal, sendo curado de forma inexplicável para a medicina. Perfeito. “Como se nada tivesse acontecido”, relatou o padre.
Sete anos até Roma dizer “sim”
O caso foi encaminhado a Roma, como tantos outros. Somente sete anos depois, foi escolhido pela Santa Sé para análise oficial da Comissão Médica. Era um sinal claro de que havia seriedade. “Quando eles escolhem, é porque vão até o fim”, explicou o padre.
Formou-se então um tribunal eclesiástico em Campo Grande, com juízes, notários, médicos e testemunhas. Padre Marcelo foi nomeado vice-postulador da causa no Brasil, em parceria com Nicola Gori, jornalista e postulador oficial em Roma. O processo durou mais de um ano e meio. Após idas e vindas, complementações e checagens, o caso foi considerado indecifrável pela ciência e aceito pelo Papa Francisco como milagre necessário para a beatificação de Carlo Acutis.
O Brasil no centro da canonização
Para que alguém seja canonizado, é preciso um novo milagre ocorrido após a beatificação. Novamente, o Brasil ofereceu seu testemunho. Uma menina chamada Alice, também de Campo Grande, apresentava grave problema ósseo próximo aos quadris. Seus ossos se refizeram. Exames comprovaram. O Vaticano chegou a pedir documentação adicional.
Mas, enquanto isso, um milagre com uma menina da Costa Rica, ocorrido em Firenze (Itália), foi escolhido para a canonização. A escolha não anulou o valor do milagre brasileiro, mas provavelmente visou equilibrar geograficamente os relatos. “Dois milagres no mesmo país, no mesmo lugar… talvez fosse demais. Mas acredito que o nosso estava à frente”, diz o padre, com humildade e firmeza.
De capela a santuário: o dia 12 e a fé viva
Com o reconhecimento oficial do milagre de Matheus, a Capela Nossa Senhora Aparecida, em Campo Grande, foi elevada à dignidade de Santuário Arquidiocesano. A cerimônia de elevação ocorreu em 12 de outubro de 2025, data que marca também a morte de Carlo, a bênção em Matheus e o Dia de Nossa Senhora Aparecida. A coincidência de datas, aos olhos da fé, torna-se providência.
“Não é uma capela dedicada ao Carlo. É uma capela onde aconteceu o milagre. Isso muda tudo”, afirma padre Marcelo. Agora, o local passou a se chamar Santuário Nossa Senhora Aparecida e São Carlo Acutis, o primeiro do mundo dedicado ao novo santo.
O fluxo de fiéis cresceu notavelmente, especialmente às quintas-feiras, quando ocorre a novena de Carlo às 16h. A pequena estrutura já se mostra apertada para tantos devotos. “O santuário já nasceu pequeno”, diz o padre, sorrindo.
Matheus hoje: reservado, preservado
Hoje com 15 anos, Matheus leva uma vida tranquila e reservada. Com diagnóstico de autismo, evita multidões, redes sociais e entrevistas. Faz catequese, frequenta a igreja e é discretamente protegido por sua comunidade. A mãe, Luciana Lins, faleceu recentemente de um mal súbito. O pai, separado há anos, não participou do processo. “Matheus é recluso. A gente respeita. Ele gosta do canto dele”, explica o padre.
Padre Marcelo: o plantador de sementes
Natural de Garanhuns (PE), padre Marcelo vive em Campo Grande há mais de duas décadas. Está na Paróquia São Sebastião desde sua fundação, em 2007. Foi ali que, movido por um impulso misterioso, acolheu o nome de Carlo Acutis quando ninguém falava nele. “Comecei a divulgação sem saber o que viria. Hoje, vejo a missão cumprida”, afirma com emoção.
Sem nunca ter buscado fama ou cargo, tornou-se peça central no processo que levou Carlo Acutis aos altares. Visitou a Itália por dez anos consecutivos, ficou dias inteiros no túmulo de Carlo em Assis, e participou da história como um jardineiro que planta, rega e um dia vê a flor brotar.
Um santo para todos
Carlo, com seu jeito jovem e moderno, atrai fiéis de todas as idades, e de todas as crenças. “Já vi prefeitos evangélicos homenageando Carlo. Vi protestantes, budistas e muçulmanos admirando sua vida”, conta padre Marcelo.
Carlo ajudava pobres, migrantes, moradores de rua. Caminhava com um terço no bolso e um sorriso largo no rosto. Após sua morte, sua mãe teve um sonho, de que Carlo lhe dizia que teria dois irmãos. Ela, antes estéril, engravidou de gêmeos. Foi o primeiro milagre, segundo muitos.
Campo Grande no mapa da fé
A Cidade Morena, como é conhecida, tornou-se centro espiritual para devotos do mundo inteiro. Não por estrutura, não por turismo, e sim por causa de uma criança, de um padre e de um milagre. Campo Grande é, agora, oficialmente, terra de milagres.
E tudo começou com um artigo lido por um sacerdote que não se deixou engessar pela rotina. Que acreditou no improvável. Que não esperou que Roma dissesse “sim” para começar a caminhar. Hoje, os passos de Matheus, firmes e silenciosos, são a maior resposta.
HISTÓRIA
Filinto Müller: O Senador que Pensava Mato Grosso por Inteiro
Por João Carlos Vicente Ferreira
Há figuras públicas que ficam presas a um retrato único. Em torno delas, a história congela um instante, quase sempre o mais controverso, e apaga todo o resto. Com Filinto Müller (1900–1973) aconteceu isso. O Chefe de Polícia do período varguista acabou eclipsando o senador de Mato Grosso que atravessou décadas, costurou apoios, abriu portas para conterrâneos e ajudou a viabilizar projetos estruturantes no então Estado Uno, especialmente na porção sul que, anos depois, se tornaria Mato Grosso do Sul. Reconhecer esse lado humano e propositivo não significa empalidecer as sombras do passado; significa, antes de tudo, ampliar o enquadramento para restituir complexidade a um personagem que marcou a política brasileira.
De Campo Grande e Cuiabá à Brasília, a construção de um articulador
Nascido em Cuiabá em 11 de julho de 1900, Filinto vem do ambiente militar para a política nacional. Após 1945, elege-se senador por Mato Grosso em 1947, retorna ao Senado em 1955, e, numa trajetória de alta voltagem política, atua como líder de governo e, após 1964, torna-se uma das principais vozes do partido governista, a ARENA, chegando a sua presidência. Em 1973, assumiu a Presidência do Senado e do Congresso Nacional, cargo no qual morreria em 11 de julho daquele ano, vítima do acidente do Voo Varig 820, em Paris. Esses marcos, hoje, constam nas biografias oficiais do Senado e em sínteses de referência.
Mais que cargos, porém, interessa aqui o estilo, Filinto tinha talento para articular,transitava entre gabinetes, operava com prazos e orçamentos, telefonava, pedia, cobrava, encaminhava, especialmente quando o assunto era Mato Grosso. É assim que ele se torna, para muitos conterrâneos, o “atalho” entre o interior e as mesas decisórias de Brasília, não como “padrinho” no sentido vulgar, mas como ponte política.
Educação como projeto nacional: a semente da UNB e da UFMS
Filinto sempre teve como um de seus propósitos de vida e de política a educação. Focou muito nisso, são muitos os fatos que evidenciam essa obsessão por esse tema. Em 1961, com o projeto da UnB – Universidade de Brasília, enfrentando resistência no Senado, Darcy foi aconselhado a procurar Filinto Müller (líder do governo). Embora adversários, Filinto o recebeu para um chá e garantiu: “Não se inquiete, professor. O problema agora é meu”; pouco depois conduziu o debate e a matéria foi aprovada, a UnB seria autorizada pela Lei nº 3.998, de 15 de dezembro de 1961. O sul do antigo Mato Grosso, notadamente Campo Grande, conheceu nos anos 1960/70 um salto institucional no ensino superior. Primeiro, com a expansão de institutos isoladosbaseados em municípios interioranos; depois, com a Lei estadual nº 2.947, de 16/09/1969, que criou a Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT). Mais adiante, já com o estado dividido, veio a federalização pela Lei nº 6.674, de julho de 1979, instituindo a Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). É esse encadeamento, institutos → UEMT (1969) → federalização (1979), que explica a universidade que conhecemos hoje.
Qual foi o papel de Filinto nesse processo? Não há um “decreto Filinto” criando a UFMS, a federalização é posterior à sua morte, mas é impossível separar a engenharia política que permitiu ampliar a rede de ensino superior no sul do Estado da articulação de bancada e do partido em Brasília, áreas nas quais Filinto tinha peso real, pois, erasenador influente e presidente da ARENA (1969–72; 1973), com trânsito pleno nos ministérios. Nos depoimentos de época e na memória regional, ele aparece como interlocutor para aprovar recursos, destravar processos e fortalecer a pauta educacional do governo estadual, então sob Pedro Pedrossian.
Essa visão de interiorização, laboratórios, bibliotecas, escolas de formação técnica,tinha um claro horizonte: rachar o isolamento do interior. A universidade, nesse sentido, não era apenas um conjunto de cursos; era território de futuro, um pacto de formação que permitiria ao jovem de Dourados, Corumbá, Ponta Porã, Coxim e Três Lagoas ficar e prosperar. É nesse fio de ação pública que Filinto é lembrado por muitos como parceiro e pressão em favor do sul do Estado.
1966: realpolitik, eleições e o “peso federal” no Estado Uno
Em 1966, o desenho eleitoral brasileiro vivia sob o AI-3 e o recém-instalado bipartidarismo; a ARENA arregimentava as bases do regime, e a política estadual se travava em torno de capitais regionais. Em Mato Grosso, o nome de Pedro Pedrossian consolida-se como expressão administrativa e palatável ao poder central. A literatura sobre as eleições estaduais de 1966, registra a força da ARENA no estado e cita o papel de Filinto Müller nesse contexto, liderança que pesava na montagem das chapas e na interlocução com Brasília, sem a qual nenhum projeto estadual respirava com folga.
A fé pública de que “Filinto referendou Pedrossian” nasce desse ambiente de coalizão,num Brasil onde recursos e autorizações corriam por canais estreitos, ter um senador com comando sobre o partido governista significava, na prática, abrir portas. O resultado concreto, para o sul do Estado, foi obra, serviço e formação.
Energia, serviços e municipalismo: o caso da Usina de Dourados
Se a universidade é símbolo do capital humano, a energia é a espinha dorsal da vida urbana. Dourados guarda um emblema que ajuda a enxergar a trama do período, a Usina Termoelétrica “Senador Filinto Müller”, iniciada na década de 1940, e inaugurada em 1949. Muito antes da chegada da energia interligada, aquela usina iluminou a cidade, marcou a paisagem e virou tema de pesquisas e reportagens sobre patrimônio cultural. O nome do senador na usina não é apenas homenagem; é sinal do vínculo político que associou sua figura a infraestrutura local e a agendas municipalistas.
É claro que filmes de época e fotografias mostram o quanto o Estado dependia de arranjos, prefeitura, governo estadual, apoio federal, para erguer e manter serviços. A memória douradense devolve a Filinto a imagem do senador que “falava pela cidade”, na capital federal. E, no Rio de Janeiro ou em Brasília, isso valia emendas, linhas de crédito, autorizações. A política miúda, tantas vezes invisível, é onde o propositivo se materializa.
Portas abertas para gente jovem: cartas, bolsas, passagens
Há um traço recorrente nas lembranças de famílias de Campo Grande, Dourados, Coxim, Três e Corumbá, dentre tantas outras, a de que os jovens que viajavam para o Rio de Janeiro ou São Paulo recebiam cartas de apresentação, recomendações, algum apoio logístico. Nem sempre isso aparece em atos oficiais, mas povoa a hemeroteca e os depoimentos orais. Esse é o Filinto das pessoas, o senador que escutava na portaria, que encaminhava. É o tipo de gesto miúdo que, somado, altera biografias. Para contar essa dimensão, o caminho é ouvir ex-estudantes e famílias, a memória ainda vive em cadernos, cartas, recortes. Muitas dessas pessoas ainda estão aí, vivas, quando não seus descendentes.
Ética, estilo e afetos: o Hotel Gaspar e a liturgia das visitas
Em Campo Grande, o Hotel Gaspar, hoje desativado, ficou colado à memória urbana, símbolo de uma era em que políticos, comerciantes, artistas passavam e deixavam rastro. Dissertações e inventários patrimoniais registram o papel desse hotel na identidade da cidade. Entre os relatos locais, é frequente a lembrança de que Filinto se hospedava ali quando em visitas. Não é o tipo de informação que se prova com um decreto, mas ela compõe a topografia afetiva do personagem, chegar, conversar, passar bilhetes, atender. Na política, a liturgia do encontro vale tanto quanto os discursos.
As sombras e os equilíbrios, o chefe de polícia e o Supremo
Ninguém discute que Filinto, como Chefe de Polícia do então Distrito Federal entre 1933 e 1942, integrou o aparato repressivo do Estado Novo. O que se discute, e muito, é a distribuição de responsabilidades em episódios como o de Olga Benário. Aqui a documentação jurídica importa: o Habeas Corpus nº 26.155 foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal em 1936; a Corte negou o pedido, decisão que permitiu a expulsão de Olga do Brasil. Isso não absolve o papel da polícia política no inquérito e na custódia, mas repõe o lugar jurídico de cada instância no processo: a decisão última não foi de um chefe de polícia; foi do STF.
Reconhecer esse desenho não é revisionismo; é método histórico. O próprio debate público, em livros e dossiês, revela leituras divergentes, há biografias críticas que o retratam como “o homem mais perigoso do país”, há estudos que relativizam campanhas de imprensa contra sua figura, atribuídas a inimizades poderosas na mídia de então. Ao historiador cabe confrontar fontes, não reencenar linchamentos.
Um Congresso que olhava para obras de Estado
Em 1973, na Presidência do Senado, Filinto conduziu a Casa num momento em que grandes projetos de infraestrutura (energia, integração territorial) avançavam com forte participação do Legislativo na aprovação de tratados, empréstimos e acordos internacionais. É a culminância de uma carreira que, queiramos ou não, ajudou a traduzir demandas regionais em decisões federais, trabalho discreto, feito de ofícios, pareceres, reuniões. E foi em serviço, voltando de missão oficial, que veio o acidente fatal em Paris. A memória institucional do Senado marca esse desfecho e as funções que ele acumulou ao longo de quase três décadas.
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul: um legado de ponte
Quando se pensa o legado de Filinto para Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, é preciso abandonar tanto o culto quanto a caricatura. O que retorna, ao recolher fontes e memórias, é a figura de um articulador que ajudou cidades, estimulou a formação de quadros locais e pressionou pela institucionalização do ensino superior no sul do Estado, etapa decisiva para o surgimento da UFMS. É natural que famílias sul-mato-grossenses o guardem com estima: ao lado de prefeitos, deputados, governadores e técnicos, ele compôs a cadeia de decisões que tirou a região do isolamento.
Também é verdade que a política que ele praticou tinha custos: pertencia a um sistema duro, com pouca transparência e concentração de poder. Escapar desse dado seria higienizar a história. Mas deixá-lo reduzido ao capítulo mais sombrio seria empobrecer a análise. Entre uma coisa e outra, há um homem público que, a seu modo, pensou o Brasil a partir de sua província, que entendeu a importância de universidades e energia, e que soube abrir portas para quem batia de longe.
Filinto Müller não cabe em uma etiqueta. Foi militar, chefe de polícia, senador, presidente de partido e presidente do Senado. Teve aliados e inimigos poderosos. Errou como parte de um sistema que julgamos hoje com olhos democráticos, e acertou ao apostar que educação, energia e infraestrutura fariam a diferença para sua terra. Num país de memórias curtas e bodes expiatórios fáceis, recontar sua trajetória com equilíbrio é um serviço à história regional e à justiça da memória: nem hino, nem libelo; biografia inteira.

*João Carlos Vicente Ferreira é escritor, membro da Academia Mato-Grossense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, da Academia Brasileira de Belas Artes, dentre outras instituições.
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